Humilhação x Vergonha x Constrangimento x Objetificação x Degradação

Eu sou casada com um cara realmente pervertido. Quando nos conhecemos, ele me deixou explorar os limites da minha libido pela primeira vez (até então, sem limites conhecidos; expandindo junto ao universo), e me mostrou como me deixar ser uma garota muito, mas muito pervertida. Eu era nova no mundo kink. Então como resultado, eu gosto de jogar com outros garotos e garotas muito, muito pervertidos. Uma das coisas pervertidas que me sinto tanto atraída quanto repelida é o tipo de jogo que nós, pessoas kinks chamamos de Humilhação. Eu conheci muitas pessoas adeptas da Humilhação na última década, e descobri que nenhum bottoms/subs/slaves/littles/pets querem dizer a mesma coisa quando usam esse termo. É mais um termo guarda-chuva para vários tipos diferentes de submissão emocional. Sob esse guarda-chuva estão humilhação, vergonha, constrangimento, degradação e objetificação. (Posso ter deixado algo de fora, me avisem se tiver.) O que eu descobri é que não é suficiente dizer a alguém que você gosta de Humilhação e deixar por isso mesmo. A maioria dos Tops/Doms/Papais/Mestres/Donos que eu conheço têm um conhecimento mais generalizado sobre o tipo de jogo que existe dentro desse termo guarda-chuva. Eu tentei por anos explicar porquê eu gosto de alguns tipos de Humilhação e não de outros, e eu ainda não consegui me satisfazer ou a qualquer dos meus potenciais parceiros, então eu me protejo desse tipo de jogo por ter medo de uma experiência ruim. Eu não quero me esconder mais dessa prática. Então isso é realmente um exercício pessoal para definir o que acho que cada um dos termos seguintes significa, se eu o quero e sob quais circunstâncias. Eu espero que outras pessoas achem útil também, já que eu notei que não sou a única pessoa que tem problemas em encontrar a linguagem certa para falar dessas coisas.

Humilhação

Humilhar:Tornar humilde.Tratar desdenhosamente, com soberba; rebaixar, vexar.Submeter, oprimir.

Eu amo tudo relacionado a essa definição. Tanto quanto sub/bottom quanto como Dominante/Top. “Ela é  masoquista; Ela preenche as metas de troca de poder; permite todas as formas deliciosas de criatividade.” Usar esse termo em uma discussão com um parceiro é um convite para se conhecerem melhor. Descobrir o que motiva a outra pessoa. O que você teme? O que você deseja? Por que? Quais são suas neuroses? O que você quer, do que precisa, o que despreza? Em que você pensa a maior parte do tempo? Não é o suficiente dizer que alguém gosta de humilhação – cada pessoa tem fontes diferentes de orgulho, respeito próprio e dignidade. Descubra quais são. Então descubra qual o jeito mais saudável de tirar isso dela.

O que me leva as divisões da Humilhação:

Vergonha

Vergonha: Ato de vexatório, que humilha, desonra; humilhação. Sentimento penoso que resulta desse ato, por se ter cometido alguma falta ou pelo temor da desonra. Ato indecoroso que provoca indignação. Insegurança efetivada pelo medo do julgalmento alheio. Dor causada pelo sentimento de inferioridade. Rubor das faces causado por acanhamento.

Essa, para mim, é a mais explosiva, potencialmente quente, e também potencialmente tóxica. É difícil de lidar; é perigosa. É terrivelmente relacionada a culpa, e mais importante, auto-estima. Eu amo me sentir envergonhada em uma cena. Me deixa com muito, muito tesão. Isso me incomodou por um bom tempo. Lá estava eu, uma mulher inteligente, educada, moderna e feminista, com várias vergonhas para superar no meu dia-a-dia (como toda mulher tem), e me sentir envergonhada em uma cena faz minha boceta pingar. Isso em si, pensei, era vergonhoso. (Um ciclo viciosamente sexy para quem pudesse descobrir.) Eu tirei muito tempo para pensar sobre isso. Era um processo. Eu descobri sozinha, agora eu estou OK com como sou e porque isso funciona para mim.

MAS! Existe um Mas bem grande pra mim aqui. Eu só dou consentimento desse tipo de jogo a pessoas que confio, porque as vezes eu levo a vergonha comigo além da cena. Isso é algo que eu não quero. Eu sei que existem pessoas que se gostam de se apegar ao sentimento de vergonha que eles obtém de uma cena de humilhação; eles querem aproveitar, sentir sua presença, processar. Meu apoio a eles. Eu não sei como conseguem. Para mim, não é saudável. Eu não tenho interesse em masoquismo emocional fora do jogo. Eu vejo vergonha como algo muito pessoal. É relacionada a nossa imagem pessoal, nossa auto-estima, o quão valioso nos vemos como pessoas. Um sente vergonha de si mesmo. Cada um de nós é nosso crítico mais severo. Nós internalizamos isso. Isso pode nos deformar.

Existem várias maneiras de prevenir que isso aconteça. Eu preciso de evidências que você se importa comigo apesar da minha falha exposta. Seu eu não tiver algum tipo de validação do meu parceiro seja durante ou após uma cena envolvendo vergonha, eu posso acabar odiando algo sobre mim, e/ou odiando a pessoa que me fez sentir dessa forma. Eu não quero ressentir a mim ou meu parceiro. A melhor validação pra mim é um pau duro ou uma boceta inchada. Me deixe tocar-los. Me foda. Tenha um orgasmo causado pela minha humilhação. Isso me prova que você é tão fodido quanto eu, de sua própria forma pervertida. Esse é meu cuidado posterior. Depois faça um check in regularmente nos dias seguintes. Continue sendo meu amigo/amante/parceiro. Dessa forma sei que você, a pessoa que me importo e confio, está ok com minhas falhas, você até as abraça , e eu não preciso me martirizar por isso.

Constrangimento

Constranger: pressão exercida sobre alguém; coação; coerção, obrigação, insatisfação; desagrado, estado de quem não se sente à vontade; acanhamento; inibição; embaraço

Constrangimento é como o primo exibicionista da vergonha. Uma pessoa não pode se sentir constrangido sem um público. Quando você tem chocolate no rosto, e não percebe até depois de ter feito uma apresentação de 90 minutos aos seus colegas – isso é constrangimento. Se você tivesse chocolate no rosto em casa, e só notasse no espelho 2 horas depois de comer o chocolate, é apenas realizar que você deveria limpar o rosto.

Se eu estou me submetendo a você e você realmente quer levar a humilhação a outro nível, coloque-a em frente à um público e adicione constrangimento a vergonha. Mas esteja ciente que é bem provável que eu fique defensiva na frente daqueles voyeres ali que não confio. Se você quiser ver uma MrsB raivosa/mal criada/sarcástica, esse é o caminho. Eu vou ameaçar chutar suas bolas. Vou te chamar de cuzão. Eu posso pisar no seu dedo do pé com meu salto agulha, ou fazer algo para cagar sua amarração perfeita. Eu vou te provocar. Eu sei bem quais as consequências. Cenas assim podem ser catárticas e divertidas, mas serão cenas muito diferentes das feitas na privacidade do lar. Eu não posso ficar constrangida se somos apenas você e eu.

Se você realmente quiser me quebrar, faça uma cena de humilhação completa em frente a uma platéia, e depois me diga que se eu responder você não irá mais jogar comigo. Eu irei: desligar silenciosamente, ou irei quebrar explosivamente. CUIDADO: esse tipo de cena pode acabar mal. Eu não quero que a cena acabe quando eu quebrar. Eu quero passar por isso. Eu vou me sentir um fracasso porque você está planejando fazer algo que é quase impossível para mim. O truque é fazer com que eu sinta que não sou um fracasso. Eu preciso de uma recompensa pelos meus esforços. Me deixe ter algum sucesso após meu total fracasso. Veja acima: genitais inchados e orgasmos. Ou (menos ideal mas ainda bom) me dê uma tarefa que saiba que posso completar, e me deixe completá-la. Me deixe te agradar.

Agora, vamos para algo bem diferente:

Degradação

Degradação: Provocar estrago e deterioração; Rebaixar e desonrar alguém; Destituir de um cargo; Condenar ao exílio.

Essa, para mim, é a essência da Troca de Poder. Eu acho difícil ficar satisfeita em um jogo sem algum tipo de degradação envolvida. O QUE é reduzido ao tipo de jogo, e parceiro. Em uma simples cena de cordas, pode ser a mobilidade. Em uma cena de dor, pode ser força ou resistência. Se existe D/s envolvida, é status. De qualquer forma, aquilo que o sub concorda em abrir mão é transferido ativamente para o Top em forma de poder e controle.O sub é degradado em proporção direta ao empoderamento do Top. E penso que é importante notar que enquanto a palavra degradação carrega um significado negativo enorme, quando usada em contexto BDSM eu não estou necessariamente associando-a a algo negativo ou desagradável. Ser reduzido ou “menos que” pode ser uma experiência maravilhosa quando é isso que se quer.

Quando me submeto, quero sentir que você vale mais que eu. Quero me sentir menos que você. Quero você se sinta mais que eu. Eu farei possível para permitir que você se sinta dessa forma. Se eu sou a Top na cena, eu quero sentir que sou melhor que você. Quero me sentir mais poderosa. Quero que meu status seja elevado. Eu um jogo envolvendo intensa Troca de Poder, eu quero que o bottom se sinta degradado em múltiplos níveis; quero que eles (ou eu) sintam que seus desejos e necessidades não tem importância alguma; Quero até mesmo que eles (ou eu) sintam que seu único desejo é agradar e elevar o Top, ou seja, perda total do ego por parte do bottom é o objetivo final. Essa é a essência de degradação para mim, e ela tem grande importância no meu conceito geral de kink.

Um subconjunto de Degradação é:

Objetificação

Objetificar: [Aqui uso a definição feminista clássica, em propósito desse assunto, parece mais relevante a nossa definição kink de objetificação]. As sete características da objetivação são:

  1. instrumentalidade (tratar como uma ferramenta usada para um propósito)
  2. negação de autonomia
  3. inércia (tratar como se faltar de ação)
  4. fungibilidade (tratar como se fosse intercambiável com outros objetos)
  5. violabilidade (tratar como se não houvessem limites)
  6. propriedade (tratar como se fosse capaz de ser comprada ou vendida)
  7. negação da subjetividade (negar a validade ou a existência dos pensamentos / sentimentos do objeto)

Enquanto a degradação implica rebaixamento ou redução dessas coisas  status, valor, força, etc), a objetificação implica a eliminação dessas qualidades. Eu disse a pessoas no passado que amo ser objetificada; agora eu percebo que não é estritamente verdade. Eu aprendi que para me realizar em minhas fantasias, preciso me sentir uma participante ativa nela. Penso que é necessário um tipo especial de mentalidade para sentir que sua participação ativa em uma cena vai apenas até a renúncia de si mesmo. É difícil para mim encontrar essa mentalidade quando necessária.

Agora, se alguém está tentando me objetificar e não espera que eu realmente “aja” como um objeto (isso parece um oxímoro) – então essa cena pode ser quente. Eu curto o dilema imposto a mim quando o objetivo é me objetificar (para prazer do Top) mas eu não estou disposta a fazê-lo (pela preservação do meu orgulho). Existe uma troca ali. Eu sou obrigada a subjugar ativamente meu orgulho para prazer do Top e sentir que estou participando de algo. Se for para ser objeto desde o inicio, eu fico entediada. O tipo de objetificação que quase sempre gosto é objetificação sexual – Amo ser reduzida a um corpo ou até mesmo uma parte do corpo para uso. (A feminista dentro de mim está dando um chilique enquanto escrevo esse texto, mas no fundo, ela ama o fato de eu assumir meus desejos sexuais dessa forma.)

Texto original: https://fetlife.com/users/13863/posts/1008316

MrsB

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