Uma Visão sobre a Disciplina Doméstica
A Disciplina Doméstica, refere-se a dominação psicológica e física mesclada a categorias de relacionamentos tipicamente considerados “baunilhas”, trazendo práticas de castigos corporais e restrições punitivas às relações cotidianas entre namorados, casais, dentre outros cenários fantasiosos ou reais; abrange tanto as relações entre adultos como entre adultos e jovens (maiores de idade).
Diz-se “doméstico” principalmente pelo fato da grande maioria desses cenários apresentarem situações do cotidiano, presentes na rotina da grande maioria das pessoas na cultura ocidental, porém “apimentadas” com práticas BDSM usadas como ferramentas de controle, punição e disciplina, sempre visando manter o parceiro “no seu devido lugar”, educado e protegido da própria falta de controle e responsabilidade, e até mesmo buscando amadurecimento de comportamentos. A DD é uma variante da própria relação de Dominação e submissão, mas dentro de outra temática. De forma resumida, nem toda D/s é DD, mas toda DD é D/s. A diferença é que a autoridade e controle do Dominador(a) na DD se dá por um status, a autoridade é inerente a esse status, diferente da D/s tradicional, onde o poder de Dominação é negociado, imposto ou oferecido à pessoa, não ao seu “título”; Em praticamente todos os temas DD, a dinâmica Dominação submissão
está presente, basicamente por se tratar de situações de poder e autoridade plausíveis e esperadas pelo senso comum, como a autoridade do pai sobre a filha ou do professor sobre a aluna; situações de autoridade trazidas pela tradição, conservadorismo religioso ou histórico-social, como a posição dominante do marido sobre a mulher, implícita na cultura patriarcal cristã, católica e/ou protestante; ou mesmo presentes nas relações de trabalho, entre patrões e empregados.
O SM está presente na DD praticamente o tempo todo, seja nos castigos corporais usados para doutrinar, seja nas posições de humilhação e submissão (infantilização, abuso sexual, autoridade explícita ou pública.)
O marido que castiga a esposa com cintadas, por ela ter esquecido tarefas domésticas; a tia que coloca a sobrinha de castigo no canto, em posição exageradamente infantil, de forma a inibir “birras”; a executiva que subjuga sexualmente o empregado, de forma a mantê-lo submisso e obediente, literalmente próximo a seus pés; a mãe que examina a temperatura do filho ainda nas fraldas; o professor que surra o bumbum da aluna adolescente que insiste em se rebelar.
Cada cena com suas variantes de situação, idade, posição e gênero, mas sempre com elementos que ressaltam posse e proteção, disciplina e aprendizado, mescladas a diversas formas de afeto e atenção. Como qualquer relação BDSM, pode ocorrer fora do contexto 24/7, dependendo diretamente do interesse, da dedicação, da obediência e respeito ao relacionamento em si; e assim como as outras nuances BDSM, precisa ser “regada” em algum momento, com encontros pessoais, para fugir um pouco dos personagens que criamos no mundo virtual, e emprestar uma dose sadia de humanidade e realidade àquela fantasia. Essa assimilação nem sempre é fácil, por se tornar de um trânsito psicológico dentro de áreas
possivelmente traumáticas da mente das pessoas. Por mais que o fetiche seja intenso, nem todos estarão confortáveis em
se posicionar dentro de relações que podem ter vivenciado, ainda que vagamente, ao longo da vida.
Por isso a autoavaliação e pleno conhecimento de si próprio são aconselháveis antes da prática da disciplina doméstica, que pode demandar mais tempo disponível para roleplay que outras práticas BDSM em alguns casos.
A obviedade
Nenhuma dessas práticas deve ser confundida ou vista como incentivo à violência doméstica, abuso de autoridade real, abuso sexual, pedofilia ou quaisquer outro tipo de agressão física e/ou psicológica fora do âmbito BDSM, na vida íntima ou social.
O não tão óbvio
Justamente por se tratar do uso de elementos sadomasoquistas dentro de cenas do cotidiano da vida baunilha, é que se deve tomar cuidado extra com a assimilação psicológica desses fetiches, e saber diferenciá-los da realidade aceita pelas leis e pelo bom senso.